segunda-feira, 8 de agosto de 2011

O mais cruel dos amores

É agosto, uma noite fria de agosto, pra ser mais exata. O café fraco, frio, com gosto amargo, permanecia na mesa ainda posta. A casa aparentemente silenciosa e a rua aparentemente de luto, numa escuridão sem fim. Havia a chuva que caía fina, como um véu que se estende acima de nossas cabeças, contrastando com as espessas lágrimas que caíam lentamente de seu rosto, apoiado entre as duas mãos. Permanecia solitária a mente do sujeito que conversava consigo mesmo olhando a cadeira vazia, mas ainda quente da permanência breve de um ser. A comida mal tocada, os estilhaços de objetos no chão. O eco do choro, o olhar de súplica feminino, o sentimento de culpa, acompanhado do choque de ver aquele corpo magro, pálido, de cabelos negros e temperatura gelada ali na sua frente, com um líquido qualquer, insignificante, brotando de seu peito. Poderia ser amor, a forma mais doentia desse amor. Mas estava obcecado, enciumado, agora caiu sobre suas costas o peso do que havia feito.
Num gesto insano, talvez impulsivo, quisera guardar para si a essência de algo que não admitia dividir com mais ninguém, agora o peito que antes batia por ele, não iria bater por mais ninguém, simplesmente não iria mais bater. E como que de relance, viu-se realizando o mesmo feito há minutos atrás... uns quinze, vinte, não fazia diferença. Queria juntar-se àquela que soubera mexer com o seu psicológico, àquela que ele amara até seu último fio de vida, mas também àquela de que cuja boca saíram as palavras mais insuportáveis de ouvir, aquelas que dariam por encerrado toda uma existência de sentido para ele. Não aguentara, só mais um gole e tudo estava feito. O barulho metálico e um corpo jogado ao chão, o rosto lentamente pousado no ombro da amada. O jorro de sangue misturado marcava a união de duas almas que, em breve, quem sabe, se encontrariam. Não mais nesta vida, porém.

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