terça-feira, 11 de dezembro de 2012

Um amor, a flor

Quisera cortar pela raiz a dor
Como quem arranca um dente, sem anestesia.
Quisera nunca ter semeado flores
O seu perfume lhe causava raiva.
Raiva de o sentir, e o guardar.
Tão mais fáceis seriam os arbustos!
Eles não lhe fariam falta no jardim.
Mas as flores? Ah, as flores ela amava.
Sabia de cor a cor.
Tão complicadas são as flores!

domingo, 28 de outubro de 2012

Aquela árvore

Todo dia, no fim da tarde, ela esquecia do tempo do relógio. Enquanto a cidade borbulhava de gente cansada demais, cansativa demais, sempre correndo, indo e vindo, ela congelava a imagem de uma árvore. Como que numa mística, ela tinha um enorme apreço pelo modo como os seus galhos secos se projetavam no céu, trazendo um contorno abstrato,  surreal! Nunca vira uma folha sequer em seus galhos, talvez marcas do tempo. Mas, confessava, preferia que assim o fosse. Seria a idade da árvore? Quem sabe...
O sol se punha e pintava o céu de cores, como pinceladas de aquarela. A sua preferida unia laranja, amarelo e rosa. A menina gostava de pensar em muitas coisas nesses momentos, como que pensar em tudo, e pensar em nada, ao mesmo tempo.  Viajava debruçada sobre aquele portão, penetrada de luz morna por todos os poros, sentindo o vento beijar os teus cabelos. Era assim que,  muitas vezes, mergulhada num mar de possibilidades, tinha os pensamentos mais produtivos! E imaginava que a semente daquela árvore poderia não ter germinado, a árvore poderia não ter dado frutos, ou flores, nem ter tido importância, mas era hoje, sem uma folha sequer e com toda a experiência do tempo, que ela demonstrava seu melhor momento.


quarta-feira, 12 de setembro de 2012

Mim


Eu gosto de me mostrar,
Me doar.
Jogar ao vento o que sou, mesmo que me joguem o que eu deveria ser.
Não importa, a raiz é profunda, mas liberta.
Me plantei, floresci.
Sou uma flor, (in)comum, (i)mortal.
Liberdade de cor, cheiro, forma, sempre!
De ser, de não ser, do ser.




terça-feira, 31 de julho de 2012

S(ó)


A tristeza dos olhos não cabem na gota de orvalho
Transcendem a imensidão da brisa vespertina
Calma, serena e morna.
O riso meia boca
O choro meia lágrima
A alegria meio triste
A incompletude!
O vazio do amor efêmero
O vazio do lugar ao lado
Da paixão que é fogo de palha
Da gasolina que acaba
Do amor solitário.

quinta-feira, 5 de julho de 2012

Auto - retrato



E eu aprendi que a melhor pessoa que se pode agradar é a si mesma! Quando você está bem, o resto se encaixa, fica bem também. A melhor pessoa com quem posso conversar é comigo mesma, porque de mim saem as melhores conclusões e as melhores perguntas. Eu sou também a melhor pessoa com quem posso contar, porque quando se quer as coisas bem feitas, eu vou lá e faço! Eu, aos poucos, aprendi a lidar comigo mesma, meus defeitos, qualidades, manias e incertezas... e não foi fácil! Sou inconstante, um pouco descrente, mas amável, intensa, centrada e narcisista. Não adianta procurar nos outros o que não acha em si mesma, não adianta querer entender os outros quando você, por si só, já é um mistério!
Sou um poço, profundo, confuso, mas não sou um poço vazio, é cheio de água pra quem souber buscá-la com paciência e sapiência!

quarta-feira, 27 de junho de 2012

Existe dentro de mim um mundo, o meu mundo, que poucas pessoas conseguem a chave. Lá eu não preciso explicar-me por um gesto tão inexplicável, ou tão óbvio. Enquanto as pessoas riem, eu me orgulho, porque elas tampouco tem ideia da grandeza do meu discurso, tamanha pequenez contida em suas mentes. Lá, tudo me é interessante, porque estou agradando a mim mesma, tarefa já árdua demais. Entre devaneios, dúvidas, conversas, eu me acho. Espremida entre uma coluna e outra, pra falar sobre coisas bonitas e feias, vou proliferando o que sou, porque sou letras, jogadas ao vento pela minha boca.

domingo, 3 de junho de 2012

Achei que estivesse blindando os sentimentos pra não sofrer, mas esquecera que, por ventura, é um ser humano e dificilmente se encontra a impermeabilidade certa pra o tipo errado de sofrimento.

quinta-feira, 24 de maio de 2012

Não sei se é feio admitir a inquietude da solidão, ou se é mais feio ainda fingir gostar da perenidade dos vazios. Feio mesmo é queixar-se de braços cruzados e acenar para o acaso. Se acha que vem, não vem, se acha que não vem, não vem mesmo. É pessimismo, descrença, realidade... sina?

domingo, 13 de maio de 2012

Molduras



A solidão torna os dias frios ainda mais frios
O café fica amargo, a bebida quente
E o cobertor é grande demais pra uma só pessoa.
Os braços procuram o que não há
A cabeça encosta num peito inexistente.
A janela emoldura o dia cheio que vem vindo
Os olhos emolduram o vazio do peito
O peito emoldura o coração
A lágrima presa no quadro emoldura o pensamento.

terça-feira, 8 de maio de 2012

Ventos

Me sinto pássaro aventureiro
Folha atrevida que desprende da árvore
Avante! Rumo aos ventos desconhecidos!
Nada de correntes
Nada de gaiolas
Sou gota de mercúrio
Que foge da mão de quem o apreende.

segunda-feira, 16 de abril de 2012

Parede de vidro

Entre as cores que posso ser e a transparência sem perspectiva, optei pelo borrão.
Talvez não seja a mais exuberante das formas, nem o melhor, mas sou o eu.
O eu entre sorrisos  e lágrimas quentes demais...
O meio termo nunca foi pra mim, mas agora ele está com a forma do meu corpo.
Enclausurada num cubículo minúsculo e frágil de vidro,
Com o martelo na mão
E disposição nenhuma para quebrá-lo.

quinta-feira, 29 de março de 2012

Só saudade

Aquieta, querida!
Não deixa teu coração se inspirar pelo preto da noite
Nem que teus olhos pareçam barcos naufragados, perdidos.
Acalenta o teu soluço ao lembrar de balanços e fatias de Sol
Teu rastro não se apagará, nem tampouco será cortado o teu cordão umbilical
Põe o teu sorriso, aquele que faz seus olhos sumirem.

E nestes sussuros, eu que não bebo café, desejei umas três ou quatro xícaras, pelo menos
Pra aquecer a alma e o corpo, um cobertor feito de mãe e uma voz dizendo que isto tudo é passageiro.

terça-feira, 6 de março de 2012

Giradouro mental

A minha mente está coberta por tinta em todo lado
Não é só ser escravo dos meus impulsos
Há agruras e figuras no meu pensamento
Há mestres e vozes todo o tempo falando comigo.
Tudo aparenta sonho, tudo fede a sonho
Não sei se o dito normal sonha feito louco
Ou se eu, tão louco, sonho ser normal.
Mas a relatividade me permite
Asfixiaram-me no sistema
Amorteceram minha voz
Sedaram minhas ações
Ouvem com demência incomum os meus discursos sábios.
Eles não me ouvem. Que discurso? Que discurso?
Louco não somente eu, loucos vocês.
Escravizados, padrões, enclausurados
Cegos, surdos, estúpidos
Comuns.

domingo, 4 de março de 2012

Mescla

Ao certo ninguém a decifrava
Se era fera ferida, ou se só o "ferida" já bastava.
De tantas personalidades, não escolheu uma sequer igual a outra.
Talvez fossem facetas de uma mesma personagem
Que criava para tentar arrumar mais umas duas ou três máscaras para gostar de si mesma.
E ela que não sabia ser mais certa ou menos errada
Fundia-se no desejo ardente de fazer algo valer à pena.

quarta-feira, 29 de fevereiro de 2012

Do lado de lá

Lá de onde eu venho eu não preciso explicar-me
Basta olhar, basta ensaiar com a mão um gesto inacabado
Lá de onde eu venho, eu saio à meia luz, à meia noite
Coberta pelas estrelas e vigiada pela Lua
Lá de onde eu venho eu não preciso de relógios
Não preciso de palavras demais, seriedade demais, não aprecio os excessos.
Preciso de sorrisos, e os tenho. Sorrisos sinceros e coloridos.
Quando estou lá, as coisas parecem mágica
Lá de onde eu venho o impossível é um "quem sabe"
O muito pouco se transforma em muito, apenas
E a natureza me abraça com seus fins de tarde acolhedores e mornos.
Lá, o lugar de onde venho, sempre me conforta
É o meu paraíso terreno e terno.



segunda-feira, 6 de fevereiro de 2012

Enigma

Loucura de amor? O amor, em si, já é uma tremenda loucura. Imagine só pensar por dois, imagine só viver por dois em um só, imagine ter um sentimento tão incondicional e amplo por uma pessoa que foge ao seu controle, que é parte de um mundo externo ao seu, mas que ao mesmo tempo é tão íntima e interna e consegue te fazer imensamente bem. Amar é como pular em queda livre em um penhasco alto e com fim. Escrever coisas tão sentimentais, tão amorosas e no ano seguinte não reconhecer a letra e a pessoa, muito menos o sentimento que havia. O amor é um enigma que só se decifra momentaneamente, só no momento da vivência, depois tudo perde o sentido novamente. O amor é um paradoxo.

Ao menos para mim.

terça-feira, 24 de janeiro de 2012

Paraíso

Almejo um lugar seguro, que me segure entre os braços e me console deste mundo incomum. Lá eu veria tudo como se eu estivesse vendo pela primeira vez, guardaria aromas que não me esbofeteassem a face, passaria a noite nomeando as estrelas, lembraria de pessoas que não me decepcionaram. Lá eu adotaria um duende, e ele me ouviria quando todas as pessoas estão ocupadas demais com seus próprios devaneios. Lá eu amaria, com todas a completude do meu ser, eu amaria a essência das coisas, mas não todas as pessoas, pois foi amando-as que, um dia, precisei criar este lugar em alguma gruta da minha mente.

sexta-feira, 13 de janeiro de 2012

Desvio

Quisera eu te secar com os olhos
Enlarçar-te no meu quente aconchego
Te tornar prisioneiro efêmero
De um amor não breve

Quis congelar cada momento
O afago e o estrago
Cada ensaiar de sorriso

Mas te perdi de vista
Perdi a vista
Fui cegada pelo sol

quarta-feira, 11 de janeiro de 2012

Se queres conhecer o meu segredo, não me prenda, não me imponha grades, eu descubro as combinações dos teus cadeados, escapo entre os teus dedos.
Se queres me conhecer de verdade tem de ser devagarzinho, que a sorte é breve e o meu amor, meu bem, às vezes é mais breve ainda.

segunda-feira, 9 de janeiro de 2012

Fome de presença

E te deixarei ir, com toda a leveza que também te deixei entrar em minha vida. Você cuidou de mim como se eu fosse uma flor, mas até as flores precisam de companhia. Não consegui alimentar-me de sua ausência, a flor cansou, a flor sentou e adormeceu. Não quis esperar o melhor, não quis esperar o pior, não quis esperar, e justamente esse não esperar, nos transformou em lacunas, sem perspectiva, sem um degrau a mais no muro pra ver o por do Sol no horizonte.
Não apagarei o seu rastro, para que, quem sabe um dia, você possa encontrar o caminho de volta... em outros tempos, outras circustâncias, pra darmos motivos aos que dizem que combinamos e  relembrar o quanto a Lua estava bonita quando nos conhecemos.