quinta-feira, 17 de dezembro de 2015

Olhar uma folha em branco é lembrar de cada frase que já escrevi, desde os meus antigos diários, guardados em gavetas secretas, dentro de ursinhos de pelúcia, em cima de armários.Pedaços de mim que não mostro, fugas, escoamentos, transbordamentos, afeições. É como se cada espaço em branco me encarasse com olhos penetrantes que pensam "o que será que ela irá escrever agora?". Tenho medo! Sim, medo de cada letra que sai do meu corpo, como se fossem partículas secretas de mim que vão saindo sem que eu tenha o menor controle sobre elas. As palavras são meu conforto e minhas algozes. Das muitas vezes que pensei em tornar a escrever, minha mão recuava, como pele que recua da brasa quente.
As palavras sempre me denunciaram, sempre mostraram muito mais do que eu realmente tinha pretensões de mostrar. Elas escorrem nesse mar de sentimentos, arrastando a areia da beira da praia, derrubando castelos esperançosos.
Já escrevi inúmeros poemas alegres, otimistas, mas é como se eu tivesse raiva de cada um dele, por fantasiar uma vida que não é tão simples assim, mas a tristeza sempre foi uma boa companhia de inspiração... a reflexão também!
Sempre quis voltar e escrever aqui, mas a mão tremia, pingava um rastro de suor nervoso desde a testa, dava uma reviravolta no estômago. Como então estou escrevendo essas linhas? Não faço ideia, não sei se estou escrevendo... estou cheia e precisava vomitar, enfiar o dedo na goela e deixar que alguns pensamentos mal mastigados saíssem.