terça-feira, 6 de janeiro de 2015

segunda-feira, 5 de janeiro de 2015

Se morre de poesia?

Como encarar com um mínimo de decência uma página em branco, já sabendo qual será o fim dela? Como olhar pra esse cursor piscando, debochando de mim e cochichando “ela deve estar triste, ou vai escrever poesia ou vai pintar aquarelas”?! Como sobreviver ao ímpeto de cuspir tristezas? Vem todo aquele bolo de pensamentos e palavras mofadas subindo goela acima, tenho que vomitar. Fujo, juro que tento fugir dessa mania patética de escrever quando estou angustiada. Sim, patética! Poetizo a tristeza quando o que eu queria de verdade é que ela fosse o mais áspero possível, dessas tristezas que dá secura na garganta de quem lê e só consigo poetizar, metaforizar. A vida me esbofeteia, amigo, cuspo sangue com tamanhas pancadas na cara e o que faço? Escrevo, sim, usando como tinta o próprio sangue da dor. Sofro da doença das palavras, elas são o meu sintoma, não consigo dizê-las, mas consigo escrevê-las e dói, mas cada tecla que aperto, com a velocidade dos meus sentimentos, vai me aquietando. Droga! Queria quebrar uns copos, gritar, arrancar cabelos e só consigo poetizar. Será que um dia alguém escreverá a história da menina que morreu de tanto poetizar tristeza? Será que alguém morre de poesia?

domingo, 4 de janeiro de 2015

Concha

Sim, foi você que percorreu com os olhos, com as mãos e com a língua cada centímetro de minha pele, foi você que me marcou com teus lábios carnudos a parte lateral de minha nuca. Foi você que me virou do avesso e descobriu que o avesso é o meu lado certo. Foi você que meteu e se meteu dentro de minha vida. Foi você que voou, fui eu quem voei. Voamos. Foi você quem repousou a asa sobre meus braços, foi você que como passarinho acuado ficou no meu ninho. Foi você que como uma gata parida, tentava me afastar de você e eu como gata no cio, acabava ficando. Foi a água no nosso corpo que fazia o dia valer à pena, foi a preguiça cotidiana e a correria do dia a dia que transformava o abraço no nosso refúgio. Foi a saudade que me marcou assim, com uma cicatriz de uma ferida mal curada, a ferida da distância, da saudade, do não estar. Foi tudo isso e por isso que até conchas do mar me fazem lembrar de você.