segunda-feira, 19 de setembro de 2011

O outro EU

Ainda pior do que olhar uma cidade e não reconhecer ali um lugar seu, do que olhar para um céu nublado, do que olhar um amigo que mudou, do que olhar para um amor antigo e não reconhecer nele características que, antes, lhes foram agradáveis, é olhar para si mesmo, com que por dentro e pensar o quanto você está irreconhecível! Conserva em si características fiéis, mas,  simultaneamente, a vida foi-lhe imprimindo marcas, vestes, faces de um outro EU, um engolidor de personalidades, que quer, a todo custo abarcar a sua essência e mandá-la pra longe. Esse novo personagem veio com tudo, a ponto de as pessoas acharem que esse é o seu molde, essa é sua teia característica.
O problema é que este outro EU - o engolidor de personalidades - às vezes, por ser bem mais impulsivo e ter menos senso de controle, traz mais sensações de felicidade, por assim dizer. Uma felicidade artificial e efêmera, acompanhada com o embaraço em distinguir o que é essencial e o que é dispensável em sua vida, o que é sensato e o que é totalmente inconcebível. O outro EU, muitas vezes bagunça o seu interior.
Pra que acumular insucessos, preocupações, vazios? Eu me pergunto, com que finalidade? Talvez a questão aí não seja nem tão simples, mas o fato de que a essência própria da pessoa, o seu verdadeiro eu, ser tão inseguro, a ponto de camuflar-se em uma imitação barata de si.
Apesar de não ser nada fácil expulsar este inquilino indesejável de si, a aceitação de que ele não está te fazendo bem em vários aspectos da sua vida, como por exemplo, no modo como as pessoas te veem, já é um grande passo. Então daí pra frente, é trabalho só do seu EU, o verdadeiro agora. Hora dele tomar alguma atitude e assumir as rédeas daqui pra frente. Se vai trazer mais sofrimento, isolamento, tristeza? Talvez, mas ao menos se tratará de sentimentos vividos por a única e absoluta você.

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