domingo, 28 de outubro de 2012

Aquela árvore

Todo dia, no fim da tarde, ela esquecia do tempo do relógio. Enquanto a cidade borbulhava de gente cansada demais, cansativa demais, sempre correndo, indo e vindo, ela congelava a imagem de uma árvore. Como que numa mística, ela tinha um enorme apreço pelo modo como os seus galhos secos se projetavam no céu, trazendo um contorno abstrato,  surreal! Nunca vira uma folha sequer em seus galhos, talvez marcas do tempo. Mas, confessava, preferia que assim o fosse. Seria a idade da árvore? Quem sabe...
O sol se punha e pintava o céu de cores, como pinceladas de aquarela. A sua preferida unia laranja, amarelo e rosa. A menina gostava de pensar em muitas coisas nesses momentos, como que pensar em tudo, e pensar em nada, ao mesmo tempo.  Viajava debruçada sobre aquele portão, penetrada de luz morna por todos os poros, sentindo o vento beijar os teus cabelos. Era assim que,  muitas vezes, mergulhada num mar de possibilidades, tinha os pensamentos mais produtivos! E imaginava que a semente daquela árvore poderia não ter germinado, a árvore poderia não ter dado frutos, ou flores, nem ter tido importância, mas era hoje, sem uma folha sequer e com toda a experiência do tempo, que ela demonstrava seu melhor momento.