quarta-feira, 28 de setembro de 2011

Puro desperdício de luz

Da saudade que restou
Do que ainda não vivi
Desperdício, loucura e cegueira
Assim, afasto-me do que me seria luz
Luz de beira de abismo
Luz de fim de túnel
Fecho os olhos para não me dar conta das cores

Amor amado

Olha-me,
Tão somente com outras lentes
Repara-me,
Considera o que não lhe é óbvio
Ama-me,
Tão mais do que espero
Toma-me nos braços
Interrompa a fala com beijos apaixonados
Me leva pra ver o por-do-sol
Dormir sob o cobertor estrelado
Goste de me ter ao lado
Não te peço perfeição
Nem ausência de brigas
Te peço que exista
Querido amor procurado

sexta-feira, 23 de setembro de 2011

Pra não dizer que não falei das flores

Haverá uma época mais inspiradora para se pensar em mudanças do que a primavera? Nada viria melhor a calhar! Promessas de primavera são cumpridas, eternizadas, juramentadas às flores, e trair uma flor é covardia!
Então, deixemos a estação anterior e sua palidez para trás, façamos uma bela faxina no nosso jardim. Arranquemos as ervas daninhas e, em seu lugar plantemos lindas e coloridas flores.
Todo o universo entra na valsa de chegada da sua mais querida prima, ah, a primavera!

quarta-feira, 21 de setembro de 2011

Para se roubar um coração

"Para se roubar um coração, é preciso que seja com muita habilidade, tem que ser vagarosamente, disfarçadamente, não se chega com ímpeto, 
não se alcança o coração de alguém com pressa.
Tem que se aproximar com meias palavras, suavemente, apoderar-se dele aos poucos, com cuidado.
Não se pode deixar que percebam que ele será roubado, na verdade, teremos que furtá-lo, docemente.
Conquistar um coração de verdade dá trabalho,
requer paciência, é como se fosse tecer uma colcha de retalhos, aplicar uma renda em um vestido, tratar de um jardim, cuidar de uma criança.
É necessário que seja com destreza, com vontade, com encanto, carinho e sinceridade.
Para se conquistar um coração definitivamente
tem que ter garra e esperteza, mas não falo dessa esperteza que todos conhecem, falo da esperteza de sentimentos, daquela que existe guardada na alma em todos os momentos.
Quando se deseja realmente conquistar um coração, é preciso que antes já tenhamos conseguido conquistar o nosso, é preciso que ele já tenha sido explorado nos mínimos detalhes,
que já se tenha conseguido conhecer cada cantinho, entender cada espaço preenchido e aceitar cada espaço vago.
...e então, quando finalmente esse coração for conquistado, quando tivermos nos apoderado dele,
vai existir uma parte de alguém que seguirá conosco.
Uma metade de alguém que será guiada por nós
e o nosso coração passará a bater por conta desse outro coração.
Eles sofrerão altos e baixos sim, mas com certeza haverá instantes, milhares de instantes de alegria.
Baterá descompassado muitas vezes e sabe por que?
Faltará a metade dele que ainda não está junto de nós.
Até que um dia, cansado de estar dividido ao meio, esse coração chamará a sua outra parte e alguém por vontade própria, sem que precisemos roubá-la ou furtá-la nos entregará a metade que faltava.
... e é assim que se rouba um coração, fácil não?
Pois é, nós só precisaremos roubar uma metade,
a outra virá na nossa mão e ficará detectado um roubo então!
E é só por isso que encontramos tantas pessoas pela vida a fora que dizem que nunca mais conseguiram amar alguém... é simples...
é porque elas não possuem mais coração, eles foram roubados, arrancados do seu peito, e somente com um grande amor ela terá um novo coração, afinal de contas, corações são para serem divididos, e com certeza esse grande amor repartirá o dele com você."

Luís Fernando Veríssimo

Como sempre, mais um dos grandes textos de Veríssimo, realmente muito bom. Compartilho opiniões ;)

segunda-feira, 19 de setembro de 2011

O outro EU

Ainda pior do que olhar uma cidade e não reconhecer ali um lugar seu, do que olhar para um céu nublado, do que olhar um amigo que mudou, do que olhar para um amor antigo e não reconhecer nele características que, antes, lhes foram agradáveis, é olhar para si mesmo, com que por dentro e pensar o quanto você está irreconhecível! Conserva em si características fiéis, mas,  simultaneamente, a vida foi-lhe imprimindo marcas, vestes, faces de um outro EU, um engolidor de personalidades, que quer, a todo custo abarcar a sua essência e mandá-la pra longe. Esse novo personagem veio com tudo, a ponto de as pessoas acharem que esse é o seu molde, essa é sua teia característica.
O problema é que este outro EU - o engolidor de personalidades - às vezes, por ser bem mais impulsivo e ter menos senso de controle, traz mais sensações de felicidade, por assim dizer. Uma felicidade artificial e efêmera, acompanhada com o embaraço em distinguir o que é essencial e o que é dispensável em sua vida, o que é sensato e o que é totalmente inconcebível. O outro EU, muitas vezes bagunça o seu interior.
Pra que acumular insucessos, preocupações, vazios? Eu me pergunto, com que finalidade? Talvez a questão aí não seja nem tão simples, mas o fato de que a essência própria da pessoa, o seu verdadeiro eu, ser tão inseguro, a ponto de camuflar-se em uma imitação barata de si.
Apesar de não ser nada fácil expulsar este inquilino indesejável de si, a aceitação de que ele não está te fazendo bem em vários aspectos da sua vida, como por exemplo, no modo como as pessoas te veem, já é um grande passo. Então daí pra frente, é trabalho só do seu EU, o verdadeiro agora. Hora dele tomar alguma atitude e assumir as rédeas daqui pra frente. Se vai trazer mais sofrimento, isolamento, tristeza? Talvez, mas ao menos se tratará de sentimentos vividos por a única e absoluta você.

terça-feira, 13 de setembro de 2011

Tenho um gosto saboroso pelo inesperado, por coisas que arrancam atitudes incomuns e que, em questão de minutos, segundos, já nos vemos imersos em um mundo diferente. As palavras calam quando anseiam ser ouvidas. O coração grita quando pedem que ele se aquiete. Talvez se tivéssemos o poder de entender a vida, tantas histórias não se cruzariam, talvez o amor existisse... ou ele sempre existiu? Talvez houvesse mais loucura no olhar e menos mãos calejadas pelo sofrimento. Se a vida viesse com manual de instruções, a maioria o esqueceria dentro de uma gaveta, empoeirado. Então, nos resta um passo na frente do outro somente, não é ?

sábado, 3 de setembro de 2011

Acerca do amor


Claramente, este sábado está fantasiado de domingo... ócio, noite fria, densa. O clima remete à lembranças antigas, que gritam dentro de nós quando calamos. Eu que até então não tinha motivos para estar assim. pelo contrário, estava incrivelmente tranquila, bebi da cálida tristeza dos outros e me pus no lugar.
Por que temos o dedo ruim pra escolher amores? Porque sempre escolhemos justamente o botão que explode no campo minado? Ou melhor, porque amamos tanto a pessoa errada e com elas passamos momentos incríveis e doídos pra lembrar?
Às vezes, a vida dá uma reviravolta que jamais imaginaríamos e cá estamos nós pensando: "Qual o fator que determina o fracasso de um relacionamento? A distância? As brigas? O ciúme?". De fato que certamente, um desses fatores é o de uma pessoa mergulhar de cabeça e a outra ficar apenas na borda do poço. Esse desequilíbrio na balança afetiva geralmente machuca a que está em desvantagem.
O orgulho também é cruel. Não se pode competir em quem supera mais rápido um fim de namoro, quem se mostra mais desinteressado nem muito menos um ser demasiadamente carinhoso, e a outra pessoa, fria, pra demonstrar superioridade, supostamente mostrar que está no comando de tudo.
Amar é estar num estado incomum, onde tudo que é muito simples, vira muito, apenas. Onde o relógio para na contagem dos minutos pra rever a pessoa amada, onde flores, blues e poesias começam a fazer sentido. As pessoa esquecem que o amor não é um jogo e fazem bobeiras achando que haverá uma segunda partida. Mas acreditem: até mesmo os jogos perdem a graça! Você começa a perceber que nem sempre vale à pena se sacrificar por uma coisa que não caminha, que está com as pernas quebradas e que além do mais, quer subir nas suas costas e te transformar em um burro de carga. Amor só vale à pena quando duas pessoas estão bem e em sintonia e dispostos a ler muitas cláusulas de contrato.
O problema - ou a solução - é quando tudo isso se transforma em lembrança, apenas. Quando tudo não passa de uma página semi-virada e o travesseiro ainda cúmplice, guarda o aroma de uma despedida.