quinta-feira, 17 de dezembro de 2015

Olhar uma folha em branco é lembrar de cada frase que já escrevi, desde os meus antigos diários, guardados em gavetas secretas, dentro de ursinhos de pelúcia, em cima de armários.Pedaços de mim que não mostro, fugas, escoamentos, transbordamentos, afeições. É como se cada espaço em branco me encarasse com olhos penetrantes que pensam "o que será que ela irá escrever agora?". Tenho medo! Sim, medo de cada letra que sai do meu corpo, como se fossem partículas secretas de mim que vão saindo sem que eu tenha o menor controle sobre elas. As palavras são meu conforto e minhas algozes. Das muitas vezes que pensei em tornar a escrever, minha mão recuava, como pele que recua da brasa quente.
As palavras sempre me denunciaram, sempre mostraram muito mais do que eu realmente tinha pretensões de mostrar. Elas escorrem nesse mar de sentimentos, arrastando a areia da beira da praia, derrubando castelos esperançosos.
Já escrevi inúmeros poemas alegres, otimistas, mas é como se eu tivesse raiva de cada um dele, por fantasiar uma vida que não é tão simples assim, mas a tristeza sempre foi uma boa companhia de inspiração... a reflexão também!
Sempre quis voltar e escrever aqui, mas a mão tremia, pingava um rastro de suor nervoso desde a testa, dava uma reviravolta no estômago. Como então estou escrevendo essas linhas? Não faço ideia, não sei se estou escrevendo... estou cheia e precisava vomitar, enfiar o dedo na goela e deixar que alguns pensamentos mal mastigados saíssem.

segunda-feira, 9 de março de 2015

O que não se conta

Fugir...
Fluir...
Tontura
Embriaguez
Sensações
Leveza
Expansão
Mundo à parte
Pular o muro de concreto
Da concreta realidade.

Infindas impossibilidades

É sábado a noite, é estranho pensar na quantidade de pessoas que poderia encontrar se colocasse os pés pra fora de casa. Espremida entre papéis inúteis, impaciência, o cigarro que não fuma, o óculos que só usa pra ler, o peito que ronca, a banda mais bonita da cidade, o céu cinzento, as fotos da parede, o travesseiro vermelho que diz “eu te amo”, mas não é pra você. Tem vontade de sentar na varanda, em silêncio, na companhia das estrelas, abrir um vinho, fumar um cigarro, mandar a vida ir se foder. É isso que deseja todo dia quando acordar “VÁ SE FODER”. Prometera a si mesma que hoje o poema não seria sobre isso. Não irá escrever. Talvez chore, mas nem isso tem vontade de fazer. Talvez durma, mas o sono não vem e as obrigações não deixam. Talvez saia de casa sozinha, perambulando pela rua, mas tem medo de não mais voltar. Seu quarto está mais bagunçado que sua vida. Talvez arrume seu quarto amanhã, mas a vida terá de esperar. Quantas vidas já terá gasto na vida? Corre do espelho, corre da lua, só não corre da melancolia da música que toca há minutos a fio, pelo contrário, se entrega, sentada na cama, com o fones de ouvido, joga a cabeça pra trás, de olhos fechados, como quem realmente estivesse sendo penetrada por cada nota, cada grito, cada instrumento e voz. Ensaia um sorriso, lá está fazendo tudo outra vez, colocando nesse papel tosco a parte chata de sua vida. Será que alguém vê beleza ou graça nessa tristeza? Lembra de amores passados e mal passados, quer queimar coisas, rasgar fotos, tomar um gole de vinho a cada pessoa que te fodeu, mas, pensando bem, não pode acordar de ressaca amanhã e haveriam muitos goles pela frente, além disso, só tem uma garrafa de vinho. Então, Ana fez a única coisa que pôde: nada. Ficou sentada, com o computador no colo, com os fones de ouvido, com o travesseiro que diz “eu te amo” e não é pra ela e a melancolia da música. Uma noite de infinitas impossibilidades

terça-feira, 6 de janeiro de 2015

segunda-feira, 5 de janeiro de 2015

Se morre de poesia?

Como encarar com um mínimo de decência uma página em branco, já sabendo qual será o fim dela? Como olhar pra esse cursor piscando, debochando de mim e cochichando “ela deve estar triste, ou vai escrever poesia ou vai pintar aquarelas”?! Como sobreviver ao ímpeto de cuspir tristezas? Vem todo aquele bolo de pensamentos e palavras mofadas subindo goela acima, tenho que vomitar. Fujo, juro que tento fugir dessa mania patética de escrever quando estou angustiada. Sim, patética! Poetizo a tristeza quando o que eu queria de verdade é que ela fosse o mais áspero possível, dessas tristezas que dá secura na garganta de quem lê e só consigo poetizar, metaforizar. A vida me esbofeteia, amigo, cuspo sangue com tamanhas pancadas na cara e o que faço? Escrevo, sim, usando como tinta o próprio sangue da dor. Sofro da doença das palavras, elas são o meu sintoma, não consigo dizê-las, mas consigo escrevê-las e dói, mas cada tecla que aperto, com a velocidade dos meus sentimentos, vai me aquietando. Droga! Queria quebrar uns copos, gritar, arrancar cabelos e só consigo poetizar. Será que um dia alguém escreverá a história da menina que morreu de tanto poetizar tristeza? Será que alguém morre de poesia?

domingo, 4 de janeiro de 2015

Concha

Sim, foi você que percorreu com os olhos, com as mãos e com a língua cada centímetro de minha pele, foi você que me marcou com teus lábios carnudos a parte lateral de minha nuca. Foi você que me virou do avesso e descobriu que o avesso é o meu lado certo. Foi você que meteu e se meteu dentro de minha vida. Foi você que voou, fui eu quem voei. Voamos. Foi você quem repousou a asa sobre meus braços, foi você que como passarinho acuado ficou no meu ninho. Foi você que como uma gata parida, tentava me afastar de você e eu como gata no cio, acabava ficando. Foi a água no nosso corpo que fazia o dia valer à pena, foi a preguiça cotidiana e a correria do dia a dia que transformava o abraço no nosso refúgio. Foi a saudade que me marcou assim, com uma cicatriz de uma ferida mal curada, a ferida da distância, da saudade, do não estar. Foi tudo isso e por isso que até conchas do mar me fazem lembrar de você.

domingo, 16 de novembro de 2014

Eleana

Atriz que não atua
No mar corre nua
Com o olhar nos fissura

Ela ama
E por um triz
Perde o amor no espelho

Ela é Ana

No escuro
Sob a luz da lua
Solta fogos
Pelo cabelo

Presente de Andreza Dendê pra mim :)