segunda-feira, 9 de março de 2015

Infindas impossibilidades

É sábado a noite, é estranho pensar na quantidade de pessoas que poderia encontrar se colocasse os pés pra fora de casa. Espremida entre papéis inúteis, impaciência, o cigarro que não fuma, o óculos que só usa pra ler, o peito que ronca, a banda mais bonita da cidade, o céu cinzento, as fotos da parede, o travesseiro vermelho que diz “eu te amo”, mas não é pra você. Tem vontade de sentar na varanda, em silêncio, na companhia das estrelas, abrir um vinho, fumar um cigarro, mandar a vida ir se foder. É isso que deseja todo dia quando acordar “VÁ SE FODER”. Prometera a si mesma que hoje o poema não seria sobre isso. Não irá escrever. Talvez chore, mas nem isso tem vontade de fazer. Talvez durma, mas o sono não vem e as obrigações não deixam. Talvez saia de casa sozinha, perambulando pela rua, mas tem medo de não mais voltar. Seu quarto está mais bagunçado que sua vida. Talvez arrume seu quarto amanhã, mas a vida terá de esperar. Quantas vidas já terá gasto na vida? Corre do espelho, corre da lua, só não corre da melancolia da música que toca há minutos a fio, pelo contrário, se entrega, sentada na cama, com o fones de ouvido, joga a cabeça pra trás, de olhos fechados, como quem realmente estivesse sendo penetrada por cada nota, cada grito, cada instrumento e voz. Ensaia um sorriso, lá está fazendo tudo outra vez, colocando nesse papel tosco a parte chata de sua vida. Será que alguém vê beleza ou graça nessa tristeza? Lembra de amores passados e mal passados, quer queimar coisas, rasgar fotos, tomar um gole de vinho a cada pessoa que te fodeu, mas, pensando bem, não pode acordar de ressaca amanhã e haveriam muitos goles pela frente, além disso, só tem uma garrafa de vinho. Então, Ana fez a única coisa que pôde: nada. Ficou sentada, com o computador no colo, com os fones de ouvido, com o travesseiro que diz “eu te amo” e não é pra ela e a melancolia da música. Uma noite de infinitas impossibilidades

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