quinta-feira, 6 de novembro de 2014

Sinto muita falta do útero materno. Nascer é doloroso, não se pede, se é arrancado, é a primeira grande perda. E para que se nasce? Não seria a vida, um eterno caminhar para a morte, um dia a mais não seria, na verdade, um dia a menos? A vida é cruel, o amor também o é. Não aprendera com as falhas em que se espelhou que o amor é a coisa mais paradoxal que existe? Quando pequena, e ainda hoje em tristes esperanças infantis, alimentou a fantasia de que o amor é a coisa mais importante do mundo e que ele basta. O amor, meus camaradas, o amor, entre idas e vindas serve para a poesia. E o quanto dói ver que o galgar de minha existência intensa se pauta geralmente nas poesias feitas da tragédia, dos cacos do mundo, da cidade simbólica que desmorona. Algo bonito, mas profundamente melancólico para que escreve e quem o lê. A poesia é inevitável ao sofrimento, o chão some, as pessoas derretem, o coração aperta e a poesia surge. O quão pode ser cruel a beleza que advém da tristeza do outro, o quão pode ser bonita uma poesia de quem ama demais.

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